Sísifo empurra um grande cubo pela estrada, sem aparente razão. Entre bosques, clareiras e belas paisagens ele segue irredutível em sua tarefa. A experiência repetitiva e absurda de Sísifo é apresentada em uma vídeo-instalação que reproduz o ciclo eterno de monotonia que dará ao homem a possibilidade de criar e transcender.
A metáfora existencialista é ampliada ainda à experiência da arte. Com performance do próprio artista, a obra se torna testemunho de um ofício desprovido de função e valor objetivos, encarnando a própria definição do absurdo. Cabe ao artista a tarefa de seguir em seus trabalhos, aceitando seu destino como parte da criação.
Sobre a Vídeo-instalação:
Sísifo é um personagem da mitologia grega, resgatado pelo escritor Albert Camus em ensaio filosófico de 1941. Tendo enganado repetidas vezes os deuses, Sísifo foi condenado a empurrar uma pedra de mármore até o topo de uma montanha, sendo que lá chegando a pedra rolaria de volta ao ponto de partida, para que ele recomeçasse o trabalho por toda a eternidade.
O mito de Sísifo ampara Camus em sua afirmação do absurdo da existência, diante do qual não existe liberdade. Cabe ao homem aceitar a repetição e a monotonia dos afazeres cotidianos, tornando-se criativo por meio da revolta e da paixão.
Diferentemente de Camus, nesta leitura desdramatização do mito tanto revolta como paixão são descartados. É suficiente que Sísifo aceite sua condição, sem a necessidade de empregar esforços excessivos (revolta) ou mistificar seus resultados (paixão). Ele está livre para desfrutar do caminho, sem dar ênfase especial a si ou à sua missão. Ele só não está livre, claro, para abandonar a tarefa.