Na minha coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP, tratei nesta segunda-feira, 19/3, do impacto das tecnologias e das mídias na cidade na arte urbana. Destaquei VoiceOver, um projeto do estúdio de urbanismo e design Umbrellium que está em curso na cidade de Londres, a partir de uma parceria com o Furtherfield.
As cidades contemporâneas foram expandidas pelas tecnologias digitais e a presença das redes e das mídias modifica a arquitetura, o design, a paisagem e também a arte urbana. Algumas evidências, quase banais, desse processo são as fachadas de LEDs e o uso de sensores nos edifícios, aplicativos, como o Waze, que monitoram o trânsito por meio do compartilhamento de informações dos motoristas nas ruas, e a proliferação de dispositivos de informação em tempo real sobre o fluxo dos transportes coletivos. Todos esses exemplos em conjunto têm, como contraponto, um significativo aumento da capacidade dos poderes públicos e privados de vigiar e rastrear nossas ações.
O Umbrellium, um escritório inglês de arquitetura, design e urbanismo, explora esse novo cenário, apostando em possibilidades de construir novos modelos de cidades, abertas à participação e engajamento. Estão desenvolvendo um projeto em Londres, em parceria com a plataforma artística Furtherfield, chamado Voice Over que discute o futuro da vida na cidade e aponta para outras possibilidades de intersecção entre a arte, as tecnologias e o espaço urbano.
O debate, que segue até o dia 15 de abril, não é feito em um auditório ou em uma assembleia virtual, mas por meio de um equipamento desenvolvido pelo Umbrellium que tem uma antena luminosa ligada a um transmissor de rádio e é instalada na janela dos moradores de um bairro.
As pessoas se comunicam remotamente, expressando suas opiniões e seus comentários são transmitidos, em áudio, publicamente, enquanto as antenas ganham cores variadas, acompanhando as falas. As transmissões em tempo real só podem ser acompanhadas por quem está lá, mas é possível seguir o projeto pela sua documentação no Twitter e acompanhar alguns dos seus resultados. Depois, todos os registros serão incorporados a uma instalação que será exposta no Museu de Londres.
O resultado é a criação de uma esfera de compartilhamento temporária, em uma rede de luz e som, que se projeta do espectro informacional para o espaço público. Apontando, assim, para a construção de experiências urbanas mais ricas, baseadas em redes abertas e inteligência distribuída.