A questão materna na contemporaneidade mobiliza parte da complexa produção da artista Silvana Macêdo que abre a exposição Teia de Afetos no próximo dia 10, no O Sítio, na Lagoa da Conceição em Florianópolis.
A mostra reúne dois projetos, a série fotográfica Devoção e a videoinstalação multicanal Sombra de Névoa. O projeto expositivo, que tem a curadoria de Juliana Crispe, ainda contempla outras ações, uma conversa com a artista e a curadora na noite inaugural, um convite de obra participativa e uma roda de conversa que reunirá cinco pensadoras. No dia 17 de maio, além de Silvana e Juliana, as doulas Gabriela Zanela e Virginia Vianna, as artistas Ana Sabiá e Bruna Mansani e a pesquisadora de dança Ida Mara Freire abordarão o tema Mitos e Verdades sobre a Experiência Materna Contemporânea. .
O trabalho Devoção se constitui de fragmentos de sua experiência materna em diálogo com o cotidiano de outras duas mães artistas, amigas de Silvana Macêdo. Ao dar visibilidade ao espaço íntimo da moradias, a série fotográfica revela pequenos atos devocionais realizados diariamente que sugerem de modo subjacente uma negociação constante entre necessidades pessoais e profissionais, com o tempo e o cuidado dedicados a seus filhos. No cuidado diário dos filhos, uma teia invisível de afetos se constitui como elo estruturante para a criação. “A criação artística e criação de filhos, que se dá no meio de um turbilhão de emoções, tarefas, dores, frustrações, culpas, preocupações, incertezas e desejos”, diz Silvana Macêdo.
A permanência desta delicada teia entre mãe e filho transcende até mesmo a vida material. A resiliência é o tema central da videoinstalação Sombra de Névoa, que, através de um sonho, revela o momento traumático da perda da mãe por uma criança, que penetra num espaço que parece separar a vida e a morte, tentando compreender o grande abismo estabelecido. A fluidez da memória e dos espaços subconscientes são refletidos nas imagens subaquáticas que compõem os vídeos. O título do trabalho se baseia em um verso do poema Eu, de Florbela Espanca: “(…) Sombra de névoa tênue e esvaecida,/E que o destino amargo,/triste e forte,/Impele brutalmente para a morte!/Alma de luto sempre incompreendida!...”.
Sobre a artista:
Silvana Macêdo – artista visual que pesquisa o diálogo entre arte, ciência, natureza e tecnologia. Mais recentemente desenvolve pesquisas na área de maternalismos, gênero e feminismos. Professora do Departamento de Artes Visuais e Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), atua nas áreas de pintura, vídeo, instalação e fotografia. Doutorado em Artes Visuais, UNN - Northumbria University, Newcastle Upon Tyne, UK (2003). Aprofundou suas pesquisas sobre tecnologia de telepresença em seu trabalho de pós-doutorado sob orientação da professora doutora Diana Domingues na Universidade de Caxias do Sul, em 2005.
Sobre a curadora:
Juliana Crispe - artista visual, professora, arte educadora. Professora do Centro de Artes (Ceart) da Universidade de Santa Catarina. Realiza pesquisas, exposições, oficinas, workshops, orientações artísticas, curadorias, projetos educativos, cursos de educação continuada. É doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-doutoranda no PPGAV da Udesc. Diretora do Espaço Cultural Armazém – Coletivo Elza.
Outras ações
Evento aberto ao público, gratuito, a Roda de Conversa Mitos e Verdades sobre a Experiência MaternaContemporânea reunirá as artistas Ana Sabiá, Bruna Mansani e Ida Mara Freire, com a doula Gabriela Zanella. Com mediação de Silvana Macêdo e Juliana Crispe, as artistas, Ana Sabiá, Bruna Mansani e Ida Mara Freire apresentarão suas reflexões acerca do tema, compartilhando suas experiências como mães artistas. Gabriela aborda a importância da doula no cenário da assistência obstétrica e do seu papel na prevenção da Violência Obstétrica (VO) e das ações políticas e sociais no combate à VO.
A metodologia, bem simples, consiste na apresentação de imagens, exposição dialogada de ideias, seguida de debate com o público no sentido de estabelecer uma reflexão crítica sobre a realidade da experiência materna justamente no mês de maio em que a imagem idealizada da mãe e mitos (patriarcais) sobre maternidade são exaustivamente explorados na mídia tradicional hegemônica para fins comerciais. A intenção é a de criar um contraponto a tais visões simplistas e abrir espaço para discussões mais aprofundadas acerca dos problemas, desafios e alegrias envolvidas na maternidade.
Outra ação resultará numa obra participativa que estará em processo de construção permanente numa televisão exibida dentro do espaço expositivo. Para isso, se faz um convite ao público: interessados podem enviar fotos do rosto da sua mãe para expor na TV durante o período da exposição. O envio, que se estende de modo contínuo até o fim da mostra, deve ser feito para: atelierdigital@ositio.com.br com o assunto minha_mae. O formato do arquivo: Jpg, preto e branco e a imagem deve ser retrato (vertical) 1920 altura x 1080 pixels largura com tamanho máximo de 1 Mb.
Sobre as convidadas:
Ana Sabiá - artista visual, fotógrafa e pesquisadora. Doutoranda em artes visuais pela Udesc. Mestra em psicologia social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como fotógrafa vem participando de exposições e festivais de fotografia em São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente, desenvolve pesquisas abrangendo corpo e autorrepresentação como estratégia de problematização do feminino através da fotografia contemporânea. https://www.anasabia.com/
Bruna Mansani - tem mestrado em artes visuais pela Udesc. Atua principalmente nos temas: situação, performativo, procedimento. Mãe da Cibele, professora de artes visuais pela rede municipal de ensino, mestre em artes visuais pelo Centro de Artes da Udesc. Atualmente, com a experiência de um ano e dez meses de maternidade, tem buscado abranger, incorporar, assimilar e se relacionar em real interesse com as outras atividades do mundo, ao mesmo tempo em que percebe a possibilidade da arte como expressão da intensidade da própria experiência.
Ida Mara Freire - graduação em pedagogia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1984), especialização em dança cênica pela Udesc, mestrado em educação especial (Educação do Indivíduo Especial) pela Universidade Federal de São Carlos, doutorado em psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (1995), pós-doutorado em tópicos específicos da educação (Disability Arts) pela University of Nottingham (2002). Pós-doutorado na área de dança na Universitiy of Cape Town (2011-2012). Professora aposentada da UFSC. Tem experiência na área de educação e dança. Pesquisa sobre os temas: alteridade, arte, cegueira, corpo, dança, África do Sul e teologia contemporânea. Autora do site Danças Invisíveis e Outras Corpografias. www.idamarafreire.com.br
Virginia Vianna - mãe de João, Augusto e Maria Luiza. Doula, Educadora perinatal, militante pela humanização do parto e nascimento e dos direitos sexuais e reprodutivos. Psicóloga com experiência em estudos de corpo e gênero, saúde mental e psicologia perinatal. Coordenadora de rodas de acolhimento e informação sobre temas relacionados à sexualidade, maternidade e puerpério. Co-fundadora e membra da diretoria da Adosc.
Conversa com Artista e Curadora - Silvana Macêdo e Juliana Crispe (curadora)
Quando: 10.5.2018, 20h - Gratuito
Exposição Teia de Afetos, de Silvana Macêdo
Quando: 10.5.2018, 19h (abertura). Visitação: até 26.5.2018, quartas, quintas e sextas 10h às 21h; sábados, 14h às 20h - Gratuito
Roda de Conversa Mitos e Verdades sobre a Experiência Materna Contemporânea
Quando: 17.5.2018, 19h30 às 21h30 - Gratuito
Organização: O Sítio
Apoio: Programa de Pós-graduação de Artes Visuais (PPGAV), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).