Desde 2007 vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Santa Catarina. Sua obra é marcada pela produção de séries que resgatam o princípio do planejamento de longo fôlego, para buscar experiências que se assemelham a um mergulho, no sentido de estabelecer contato com fluxos e aspectos desconhecidos da paisagem. Disso resulta um conjunto de imagens e objetos que transitam por diferentes meios. O tempo distendido, realidades imaginadas, cronometrar precariamente, futuros distantes me importam de forma especulativa, e como possibilidade poética.
Evandro Machado
Entre os cursos de formação que participou, destacam-se o grupo de Aprofundamento do Parque Lage (2011), sob a coordenação de Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale e Glória Ferreira. Em 2009 participou do grupo de estudos no Capacete, coordenado por Helmut Batista. Entre 2008 e 2012 integrou o grupo de estudos do Ateliê Mundo Novo e o curso imersivo de desenho, Propriedade e Procedência, realizado em 2007, ambos com Charles Watson. Colaborou com a Universidade do Vale do Itajaí como pesquisador e desenhista, de 1992 a 2007, no laboratório de Planejamento da Paisagem Costeira, tendo realizado desenhos e estudos de campo para publicações aplicadas na educação de jovens e adultos, por mais de 10 anos.
Meu pensamento está envolvido na ideia da transitoriedade, como na animação “Morphodinâmica” (2014), e sobre a atuação desta passagem, visível nas rugas, marcas nas paisagens, nos cabelos brancos, nas superfícies das rochas, das cores que se alteram na reflexão da luz, nas formas de seres vivos moldados pelas eras, nas ruínas desenhadas pelo futuro. Crio pequenas observações sobre singularidades ordinárias. Vivemos baseados em decifrar códigos, de luzes instantâneas, em telas maiores ou menores, sempre ansiosas em nos apresentar um “novo”, cada vez mais brilhante… o pensamento e a cultura, nessa imagem vista do olho mágico da minha porta, parecem com uma velha embarcação condenada, com estruturas corroídas, cruzando a fúria da tempestade do esquecimento. Nós somos o motim anárquico e esquálido, que tenta seguir na tarefa de não adernar a nave. A cultura do hoje triturada pelo amanhã. O vídeo “O Ferrolho”(2012), anima a idéia de um olho sólido flutuante, que percorre o espaço sem restrições, navega a arquitetura e usa sua dureza como força para escorrer e romper limites concretos. O olho com o poder de representar resistência física, como ferro da marreta contra as paredes e grades. “A Mata Mãe”(2019) traz para o trabalho o resgate da memória profunda de infância, onde ao morar com meus pais no interior do Mato Grosso, presenciei a mais ampla transformação da paisagem de toda a minha vida. A transformação do cerrado em plantações de soja e arroz feitas com derrubadas e fogo. Morei num total de 2 anos nas margem deste processo, mas para um jovem de 11 anos, foi um tempo sem fim… Os sonhos, os sons na escuridão da mata, sob um céu de estrelas, são até hoje muito marcantes para serem apagadas. “O Termo”(2008… in progress), que consiste em produzir um vídeo de 3,33min. por ano, a ser adicionado a mesma timeline pelo resto da vida, retratando livremente, uma possível forma de morrer. Eu inicio cada parte acordando, trabalhando e morrendo. Fazem 12 anos que o processo teve início e só se completará com uma parte final, feita por outro artista (dos que assinaram um termo de compromisso com o projeto), com as cenas reais do acontecimento da minha morte. Envelhecer em imagens de um vídeo, sem maquiagem ou truques cinematográficos, durante uma vida, me interessa como índice (do fracasso) de fixar diferentes recortes no tempo. Outro exemplo de trabalho, “Capillum Tempus”(2011… in progress) é o de construir um desenho com 10 perucas, fixadas lado a lado, produzidas com os fios de cabelo da minha cabeça a cada 3 anos, fazendo do acúmulo a passagem de preto para branco, em 30 anos de vida. Sigo em 2020 concretizando a terceira peruca, num esforço de fazer meus cabelos crescerem. Minhas pinturas também se relacionam com pigmentos e luzes alteradas por diferentes momentos. Penso muito de como a luz pode ser a denúncia física da passagem do tempo. Como uma pipa vermelha no céu pela manhã tem um “vermelho”, e a tarde tem outro? Quantos vermelhos tem a pipa vermelha? A luz percorrendo o tempo e seus efeitos sobre nós.