Registros de Marcio H Mota (BRA)

Essa exposição virtual traz quatro registros de obras, de Marcio H Mota, que tocam temas relativos à nossa história atual. Apresenta ainda o minidoc contra cinema, no qual o artista relata o processo de desenvolvimento do conceito de Kino Estrutura e seu desdobramento em cinco trabalhos audiovisuais, e o registro do trabalho Miragem, uma música sensorial instalativa.


Liberdade Arcaica | 1º de janeiro de 2019

O  Brasil Miliciano avança sua nau-militar, erguendo Cruz e Espada. No front da imagem, mãos armadas, o mito do herói salvador promete devolver aos seus o direito de oprimir, matar e morrer: "liberdade arcaica". Ancorados nos mais altos valores Corruptos (machismo, racismo, homofobia, preconceito cultural e religioso, xenofobia, anticiência), procuram na desqualificação do outro roubar-lhe a dignidade cotidiana. Para isso, usam do enraizado ethos genocida de uma nação nascida do estupro, tortura e assassinato dos povos originários e dos negros escravizados. Em sua "nova" versão, o Brasil arcaico apresenta sua face cristã-militar, ressentida com o julgamento que os democratas fazem de 64. Na busca por vingança, ressuscita a fantasia do comunismo para vestir toda a diferença que persegue. Não mais titubeia, aplaude torturadores. 

Como se estivesse recolonizando o país, sua tese de salvação não está no campo do debate, desdobra-se em ação destrutiva. Impulsionada por metafísica própria, seu ato de vingança não se alimenta de razão factual, mas de devaneios fakes que justifiquem sua violência. Num rito de mentira, corrupção e covardia coletiva, pulsa e propaga um universo paralelo, que chama de verdade, construindo uma suposta dignidade combativa para aquilo que podemos nomear de farsa e desonestidade intelectual. 

O Brasil Miliciano que avança deteriorado de entendimento ético, estético e moral, procura transtornar nosso humanismo, desacreditar nossa ciência, perseguir nossa arte, promovendo a asfixia. Corrupto em si, não está disposto a processos judiciais ou de transparência, sua fala é uma constante ameaça bélica as instituições. Sua palavra basta. 

Essa Cruzada imaginária carrega o espírito de limpeza e purificação que remete às piores tragédias da história. Para tal tarefa, promovem uma meritocracia palaciana ideológica: quanto mais vassalo maior o cargo. O Novo Brasil miliciano é, em parte, o mesmo antigo gigante, que por vezes se levanta para devorar os próprios filhos, fazendo do sangue derramado tapete para passar de boiada o riso cheio de dentes de sua Elite Pequena. Representam o pior tipo de corrupção que a humanidade produziu: a genocida. O Brasil que explora o Brasil, tem apoio externo, mas sua força motriz vem de dentro: caravela interior de uma elite que insiste em embarcar em cruéis ondas de exploração de um povo que não reconhece.

Beija-Flor | 31 de agosto de 2016

O beija-flor, metáfora de um lamento, ainda na clausura do instante, diz respeito à falência da democracia brasileira, carregando no disparo de seu voo sentido dúbio: luta e impotência. 

Tramoia | 02 de dezembro de 2015

Plano de luz que se desdobra, em contorcionismos geométrico, para formalizar a imagem de um congresso sobre uma banana: legalidade formal, verdade abstrata: tramoia.   

Espião 

Este trabalho foi concebido após o episódio de denúncia (Snowden) que revelou a espionagem feita pelo governo EUA, em colabora com o bloco anglo-saxão, sobre o restante do mundo. O personagem criado, o Espião, se coloca como a própria espionagem universal, como uma face existencialista da espionagem que ironiza nossas contradições e explicita a aporia sádica de nossa globalização, na qual estamos à mercê das estruturas de base tecnológica, dos canais pelos quais as informações são processadas, sendo estes canais o próprio corpo do espião, um local em que tudo é documentado, onde nada se perde, tudo se recicla, e do qual somos objetos de estimação.

Miragem

Pontos e linhas confundem a profundidade de um espaço reconstituído a luz.  Dimensões e planos entrelaçados. Ao corpo, o desfrute de uma arquitetura templária em movimento. Deitar-se para acepção de um sentido sensorial ou perdido, é destino dentro do nome que a prosa indica: miragem

Minidoc Contra Cinema

O minidoc contra cinema apresenta o projeto homônimo, de Marcio H Mota, o processo de criação do conceito de Kino Estrutura e seu desdobramento em seis obras apresentadas em 2017/2018.  


 
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Márcio H Mota é artista visual e pesquisador prático da área da videoarte. Mestre em Arte e Tecnologia pela Universidade de Brasília, desenvolveu a dissertação “Video mapping/Projeção Mapeada: espaços e imaginários deslocáveis”, na qual traça um caminho histórico revisitando dispositivos imagéticos, que ao longo do tempo problematizaram o campo da imagem em movimento. Atualmente, em seu trabalho poético, tem dado enfoque na luz como matéria e no desenvolvimento de Kino Estruturas (estruturas pensadas como meios sinestésicos para a criação audiovisual com vídeo projeção). Com projetos individuais e coletivos (Corpos Informáticos e Tuttaméia) participou de importantes mostras e exposições no cenário nacional, como Entre-copas (DF, 2013), Triangulações (DF, PE, BA, 2013), Vídeo Guerrilha (SP, 2012), 61ºSalão de Abril (CE, 2010), Vivoartmov (MG, 2009 e 2010).  Foi premiado no 1º Salão Universitário Espaço Piloto (DF, 2009), 9º Salão de Jataí (Tuttaméia - GO, 2010), 4º festival nacional de filmes curtíssimos (DF, 2011), 19º Salão de Anapolino de Arte Contemporânea (GO, 2013), Salão Arte Pará 2013 (Corpos Informáticos – PA, 2013). Em 2013, foi indicado ao prêmio PIPA com o Tuttaméia. Exposições Individuais: Miragem, Alfinete Galeria, Brasília 2019; Imagem em processo II: Incógnita Variável, Espaço "O Sítio", Florianópolis 2018; Contra Cinema, Alfinete Galeria, Brasília 2017; Constelação Travessia, Alfinete Galeria, Brasília 2016; Imagem em Processo, Zipper Galeria, São Paulo 2016, Imagem em processo (paletas de vídeo), Alfinete Galeria, DF, 2014. 

Links: 

https://vimeo.com/marciohmota

@marciohmota

https://www.contracinema.com.br

http://www.repositorio.unb.br/bitstream/10482/17292/1/2014_MarcioHofmannMota.pdf