Olhar sobre a obra de André Parente

André Parente  começa a desenvolver o seu trabalho de pesquisa em finais da década de  70, trabalhando principalmente com linguagem audiovisual. Trabalha principalmente com instalações interativas, videoinstalações, textos e pesquisas propondo a interdisciplinaridade  o pensamento amplo e o papel da imagem na subjetividade conceitual.


O filme capta o som de uma obra de contenção na antiga pedreira, e utiliza o material para realizar uma composição de imagens e ruídos. O recurso íris usado na edição produziu um efeito de isolamento entre quatro realidades no trabalho de contenção. As quatro séries funcionam como frases que se somam dentro de uma composição musical. Cada frase é adicionada à anterior, que por sua vez continua reproduzida em loop, tornando-se fundo. Forma uma estrutura semelhante a certas composições minimalistas. A partir desta edição, Fernando e André realizaram uma composição com o ruído do triturador de pedras. A junção dos elementos engendrou uma obra verdadeiramente serialista, composta por diversos modos paralelos, onde som e imagem são um só.

A moeda “1 Irreal” foi concebida em maio de 2016. O autor inspirou-se na paráfrase de Helio Oiticica: “Da irrealidade vivemos”. A moeda é literalmente um ativo: ela busca ativar (toda moeda tem um caráter performativo) a complexidade da relação entre arte e política. O “Irreal” foi lançado no Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Brasília e Curitiba, sempre durante uma conversa com dois artistas ou curadores locais.

A instalação interativa

2010

Figures on the Landscape é uma instalação onde o observador utiliza um dispositivo imersivo que simula binóculos, denominado Visorama, por meio do qual interage com ambientes panorâmicos virtuais contendo micronarrativas. São duas séries principais de narrativas, cada uma delas descreve a presença de um leitor nas proximidades, deslocando-se entre a bela, antiga e redonda biblioteca, e uma típica praia do Rio de Janeiro.

Filme de perseguição onde não há diálogos nem enredo, apenas uma contínua fuga onde sequer o perseguidor aparece em cena. A frase “não é porque sou paranoico que não tem alguém me seguindo” se atualiza como nunca. Como em um conto de Kafka ou Cortázar, a fuga parece continuar para além do filme e da sala de cinema por conta da polícia política.

Na versão instalativa, realizada em 2007, e apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, as imagens da fuga são dispostas em campo/contra-campo (são dois projetores, um diante do outro. Mas na verdade o filme não possui contra-campo), gerando a nítida impressão que ele foge de si mesmo. Em uma tela ele foge de carro e quando sai do carro começa a correr e vice versa. Cada filme contém as duas partes, a fuga em carro e a fuga à pé. A estrutura da instalação é topológica, como na banda de Moebius.


 
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 André Parente é artista plástico e pesquisador de novas mídias e cinema. É doutor em Cinema e Filosofia, sob direção de Gilles Deleuze na Universidade de Paris 8. Em 1987, foi nomeado Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde criou o Centro de Tecnologia da Imagem (N-Imagem). Entre 1977 e 2015 realizou diversos vídeos, filmes e instalações com uma abordagem essencialmente experimental e conceptual. Sua obra foi exibida no Brasil, América, Europa e Ásia, e recebeu os prêmios Sergio Motta de Arte e Tecnologia, Petrobrás, Prêmio Mostra de Realidade Virtual, Prêmio Itaú Cultural Hipermídia e Prêmio Oi Cultural de Artes Visuais, entre outros. Ele publicou uma centena de artigos e dezenas de livros. Entre seus livros, destacamos Imagem-Máquina (1993); Sobre o Cinema do Simulacro (1998); O Virtual e o Hipertextual (1999); Narrativa e Modernidade: os Cinemas Não-narrativos do Pós-guerra (2000); Tramas da Rede (2004); Cinéma et Narrativité (L’Harmattan, 2005); Cinema em trânsito (2011), Cinema / Deleuze (2013), Cinemáticos (2013) e Passagens entre fotografia e cinema na arte brasileira (2015).

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@andresouzaparente